Siba Puri dá vida e voz ao projeto PsyDub Originário no Sesc Campos
Cantora e percussionista explora sonoridades de matrizes africanas e indígenas em shows que prometem despertar a consciência do público sobre questões sociais
Neste mês de agosto indígena, quatro unidades do Sesc RJ irão receber as pernambucanas Siba Puri e DJ Synesthezk, que dão vida e voz entre rimas poéticas ao projeto PsyDub Originário, do Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2024. O trabalho musical é resultado da exploração de sonoridades e percepções extra-sensoriais, fundamentada na união dos ritmos e suas linguagens musicais de matrizes africanas e indígenas como o Dub, o Reggae, o Hip Hop, Caboclinho e Maracatu e construções de synths psicodélicos unidos a letras inspiradas no convívio com a natureza e de cunho social. Os shows têm início no Sesc Barra Mansa, no dia 23 de agosto, segue para Nova Friburgo, no dia 24, agita o Sesc Copacabana, no Rio, dia 27, e encerra sua turnê no dia 30, em Campos dos Goytacazes.
Este trabalho nasce a partir da união da multi-instrumentista e rapper Siba Puri: mulher indígena nascida em Olinda e com origens ancestrais do povo Puri do RJ; com a DJ Synesthezk, mulher preta, também pernambucana, produtora musical e integrante do coletivo cultural “Boikot”. Esta união transcende a contemporaneidade e desperta a expansão da consciência sobre questões sociais ligadas a defesa dos direitos indígenas, proteção ambiental, espiritualidade e visibilidade LGBTQIAP+. Participam ainda do show Monique Xavier, na dança e performance; e Lui Cavalcante, nas projeções psicodélicas.
“Para mim, essa turnê é muito importante pelo fato de acontecer em Território Puri, em cidades onde nossa história e memória vive em cada grão de areia. Eu como uma Indígena Puri em retomada sinto que é uma grande responsabilidade cantar nessas cidades. Estamos afirmando nossa identidade e existência indo contra a teoria de que estamos extintos. Alguns de meu povo, assim como eu, estão em diáspora, longe do território ancestral em processo de retorno. Essa turnê celebra o resgate da história da minha família que tenho feito há alguns anos. Já percorri diversas cidades e conheci muitos Puris das regiões, mas é a primeira vez que eu vou levando meu show no Rio de Janeiro e faço isso hoje com muito respeito e muito amor”, alegrou-se Siba, completando: “Estou bem emocionada de ter ao meu lado em um dos shows (o de Copacabana) a minha tia Regina Célia, que sempre foi inspiração pra mim. Cresci ouvindo histórias dos diversos shows que ela fazia na região em que vivia, cresci ouvindo sua voz e seu violão embalando meus sonhos”.
O projeto surge desse desejo de unir forças ancestrais do povo indígena e do povo preto às tecnologias, à contemporaneidade. A circulação desse trabalho fará emergir – através da atmosfera sonora – as imagens, os sentimentos e a representatividade de um povo que luta contra a tentativa de apagamento e colonização de mentes e corpos, trazendo à tona a importância do conhecimento, do fomento à arte contemporânea e à arte originária, e da preservação dos saberes ancestrais.
“Para nós, originários, a arte é intrínseca à própria natureza, integrada uma a outra na teia do existir, portanto uma não existe sem a outra. PsyDub é música, é imagem, é corpo, é movimento, é vento, é folha, é tecnologia ancestral nas artes visuais, na voz e em todo lugar. A proposta é gritar a nossa afirmação, nossa existência muito antes da chegada das caravelas”, destacou Siba.
Quem é Siba Puri
Siba Puri é cantora, percussionista, arte educadora, produtora, diretora musical e desenvolve um trabalho que tem como influência a sua avó, que em território Puri, em São José de Ubá – RJ, criava canções de roda sobre a força encantada presente na terra e nas estrelas. Além de se inspirar também nas histórias e ensinamentos do seu avô, originário de Areia, Paraíba.
A vivência da artista no contexto urbano em Olinda, onde nasceu, proporcionaram um contato direto com a cultura popular no bairro de Rio Doce, um dos berços do Movimento MangueBeat. Seu contato se iniciou logo na infância quando participou do grupo percussivo de Maracatu do mestre Nido.
A artista cresceu ouvindo e brincando o Baião, Côco, Frevo e Caboclinho, juntamente com as linguagens urbanas do hip-hop e do reggae. Com isso, a artista une a arte ancestral Puri aos elementos da cultura pernambucana e jamaicana, fazendo esse elo entre territórios e memórias rompendo as fronteiras impostas pelo colonizador. Nasce a partir disso o que a artista chama de “Dub Originário”.
Siba Puri faz parte da AME – Aliança Multiétnica, do Movimento da Juventude Indígena em Contexto Urbano – Pernambuco, do Movimento Plurinacional de Indígenas Mulheres Wayrakuna e tem fortalecido a Música Indígena Contemporânea no Brasil e no mundo.
Foi premiada no concurso mundial de música promovido pela cooperativa musical “Artlink” da Suíça. Teve seu trabalho exposto no Museu das Culturas Indígenas em São Paulo, na WOMEX, em Portugal e no 5° Congresso Nacional da CSI, na Austrália. Recentemente, seu single “Notícia nos Jornais” foi lançado na agência internacional que é referência em reggae mundial, a Reggae Ville, que já lançou músicas de artistas que são suas referências como Dezarie, Ziggy Marley e Protoge.
Siba Puri também foi embaixadora do movimento mundial “Make Music Indígena 2023”. Em 2024, lançou o seu segundo EP intitulado “Descaravele”. No cinema, atuou na construção da trilha sonora do filme “Recolando Retina” premiado na “Caravana Tribal Nordeste” e na produção executiva e trilha sonora de “Ingá” de Monique Xavier, filme que foi premiado no Festival Internacional de Dança e Vídeo – Dança em Foco, “melhor roteiro e melhor fotografia”. Além disso, foi auxiliar de trilha sonora no filme “Território em Trânsito” de Renna Costa.
Ao longo da sua jornada musical, a artista já participou de festivais e eventos como, por exemplo: Festival Internacional Amazoniza-te; Carnaval do Recife; Jornada de Agroecologia da Bahia (Teia dos Povos); Usina Sonora – TV Cultura, Festival no Ar Coquetel Molotov; Virada Cultural de São Paulo, Festival de Música Indígena do Maranhão, Recn’play, I Festival Indígena de Conde, na Paraíba; I Mostra de arte contemporânea Wayrakuna – BA, e 23° Assembleia Xucuru, Mostra de Música Indígena Contemporânea Sesc 24 de Maio – SP, Festival de Inverno de Garanhuns PE 2023, Festival Brasil Terra Indígena promovido pelo Mídia Indígena com apoio do Ministério da Cultura e Ministério dos Povos Indígenas.
Quem é DJ Synesthezk
Rafaella Orneles, visionária pernambucana, é mentora em oficinas de desenvolvimento de áudio na linguagem de interfaces digitais, produtora musical, compositora e DJ, também integrante do Coletivo de arte e cultura psicodélica BoiKOT.
Mulher negra costurando a trajetória na cena eletrônica e musical, num desafio de trazer à tona a ancestralidade na ocupação de espaços com o projeto Synesthezk.
Leva da RAVE, a inspiração das experiências extra sensoriais que se despertam em cenários psicodélicos e o real significado da sigla, “Radical Audiovisual Experiencie” abrindo os portais extra-sensoriais na consciência de quem vivencia e as chaves são a indução da discotecagem, síntese sonora, sob inúmeras possibilidades de modulação de áudio capturados em viagens, vivências e pesquisas para criação de suas fórmulas musicais, acendendo colapsos espirituais, políticos e afetuosos no instante já!
Sua arte vem passando por apresentações em grandes eventos pelo Brasil, como Festivais da BoiKOT, Essential, Shambhala (PE), Hakimou e Biosfera (RN). Resistrance (PI), Festival de Música Indigena (MA), Virada Cultural (SP), Universo Paralelo, Vale Dançar (BA), Ziohm vs Bug e Element (CE).
Sobre o Sesc Pulsar:
Criado em 2021 para reativar o setor após o impacto da pandemia de Covid-19, o edital vem se consolidando como uma das mais importantes ferramentas de incentivo à cultura fluminense. Na última edição, o Sesc RJ recebeu inscrições de 4.153 projetos de 23 estados. Nos últimos dois anos, o número de atrações foi ampliado em 125%, alcançando mais de 1 milhão de pessoas, em 20 unidades da instituição e em dezenas de espaços escolares e urbanos.
Em sua quarta edição, o Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar foi aprimorado para facilitar a inscrição de projetos. Intervenções de graffiti, apresentações nas unidades hoteleiras do Sesc e o incentivo a inclusão de ações de acessibilidade nas produções estão entre as novidades desta edição.